quarta-feira, 10 de setembro de 2008

...materialidade povera...

A Arte Povera foi um dos movimentos artísticos mais fortes e subversivos no pós-II guerra, em especial na Itália, país onde surgiu. De caráter revolucionário, lança mão de materiais encontrados, em estado de decomposição ou passivel de tal, naturais, vivos, encontrados no lixo, etc. Ou seja, tudo que até então não era convencional como material artístico. O ideal de retirar o objeto arte do circuito mercadológico que havia dominado, e pensar a arte fora de um sistema dominador, levaram os artistas ao uso desse tipo de material. A imagem deixa de fazer parte do trabalho, que torna-se sempre tridimensional e temporal. O modo cru como se expõem os trabalhos, bem como seu modo de feitura tornam-no extremamente literal, embora não frio, já que seus objetos todos fazem parte de certa forma a um cotidiano pessoal, seja ao se usar animais, objetos simples, ou construções apodrecidas.


O contexto era de uma Itália destruída pela guerra, onde as prioridades de recontrução era todas menos o meio artístico. Assim, os artistas optam por essa abordagem de materiais, bem como no questionamento do que seria arte, do mercado de arte, da apropriação destas por parte do sistema global, etc., ao ponto de se negarem como artistas, de negarem o objeto artístico como tal.

Um dos artístas chaves desse movimento foi Jannis Kounellis. Uma de suas mais famosas instalações foi o alocamento de vários cavalos vivos numa sala. Seu trabalhos caminham por uma gama de materiais bastante característicos do movimento Povera, o tempo é um dos materiais mais impressionantes do qual faz uso.

O trabalho ao lado, por exemplo, pode ser entendido, como uma metáfora desse material, o tempo. Trata-se de uma instalação feita de dois armários dependurados por cordas, e uma janela anexada à parede ao fundo. Um armário é um lugar onde se guardam objetos, roupas, quinquilharia, ou qualquer coisa que não interessa no momento, mas talvez no futuro. Pode ser tanto uma mobília íntima quanto pública. O içamento remete a diversas ações (enforcamento, distanciamento, pêndulo, etc.), mas no caso, parece mais relacionar-se ao simples afastamento do contexto usual do objeto, afinal, um armário amarrado e dependurado acaba é inútil, tornando-se como que um caixão para o que estiver dentro, perpetuando seu conteúdo, deslocado da materialidade terrêna, num campo quase etéreo, elevado. A janela ao fundo torna-se um sinal de temporalidade, de ver as coisas passarem, uma conexão do interior com o exterior, embora não interativa, porque fechada. A aparência de todos objetos são de rejeitos, discartados, encontrados e apropriados pelo artista para uma nova relação de sentidos, num novo contexto de significação.

Para mais sobre o artista, um link da Tate Modern, e um livro sobre o artista no Google Books.


Um comentário:

Unknown disse...
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