Outros trabalhos também se mostraram interessantes, como as máquinas de escrever que apenas escreviam pontos, ou os vídeos das performances da artista Marina Abramovic, e outros vídeos que se locavam no térreo da exposição. Outros trabalhos se mostraram simplórios, superficiais, por demais datados e auto-referentes, que não me pareceram relevantes o suficiente pro contexto, mesmo que pensados para ele. É o caso do trabalho da Valeska Soares (artista também já comentada aqui, embora daquela vez ela tivesse feito um trabalho bastante melhor), que colocou próximo à entrada da exposição um amontoado de letras em papel, todas sobre um grande tapete representando a capa do catálogo da primeira Bienal de São Paulo. A artista pegou o parágrafo introdutório do catálogo, pegou suas letras, as embaralhou e amontoou por sobre ele, como se estas estivessem "fugindo" dele, para uma nova avaliação do que seria essa bienal, uma nova leitura a ser feita. De fato, é essa a proposta da bienal em si, uma releitura do formato bienal, etc., mas a obra em si não possui força, chegando a ser literal demais, sem um elemento "surpresa", apenas uma figuração do conceito dos curadores. E é nesse ponto que peca. Fora que, a meu ver, esses trabalhos "encomendados", que não partem do artista diretamente, mas são feitos sobre certo pedido, são sempre inferiores se comparados à produção inerente ao próprio artista. Enfim, essa é uma visão que poderia ser discutida, trata-se apenas de uma impressão que tive.
Há outros trabalhos bastante bons, mas como o post já se prolonga, gostaria apenas de terminar comentando a exposição em si. Esse vazio colocado no meio da exposição, funcionando como uma quebra, pois o visitante vem de um andar com obras e ao passar para outro, não possui nada, só podendo encontrar mais no terceiro andar. Ou seja, esse andar foi passagem obrigatória. Eu aceito a idéia por detrás dele, mas não a justificativa "espacial" apresentada pela curadora, de observar o espaço projetado por Niemeyer no seu estado puro, a luz entrando no prédio etc. Essa é uma tentativa falha de conceitualização sobre algo, ou mesmo de justificar esse algo, e muito forçada. Se o vazio é o ponto de apoio, que seja ele, não chamemos a atenção para o espaço. Vazio é vazio, e a metáfora se fez muito bem, não precisando de mais explicações. E assim como essa explicação, grande parte da exposição também se mostrou precária. Descuidos de montagem, de locais usados, de pensamento expositivo, improvisos, falta de acabamento, etc. dominaram essa bienal. E esse descuido também causou uma péssima impressão naqueles que já não entendem o "linguajar" da arte contemporânea, afastando-os mais ainda de tentarem entendê-la.
No entanto, o saldo ainda me parece positivo. Quem não foi, perdeu. Quem foi e estagnou na questão do espaço inutilizado, também (e não na questão que ele explora). Assim como aqueles que pararam no nudismo do artista, ou no acabamento medíocre da exposição. No resto, valeu a pena. Torçamos apenas para uma melhor organização daqui a dois anos, para que esses pontos se solucionem.
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