sexta-feira, 20 de junho de 2008

...mea culpa...

Mais um erro... sim, acho que a coisa está ficando feia... A leitura feita da obra de Bruce Nauman não é a melhor a se fazer. Compre um livro a duas semanas e folheando-o, vi uma imagem de um homem cuspindo água pela boca, em posição de cupido. Na legenda dizia: Bruce Nauman. Aí a coisa começou a realmente fazer sentido. E outro ponto que o autor coloca também (fico devendo o nome dele) é a relação do trabalho com um das mais icônicas e exploradas obras de arte modernista: a fonte de Duchamp.

Depois disso, tudo parece mais claro e óbvio, não? O que eu quero agora chamar a atenção é essa confusão toda: o que possibilita alguém fazer uma boa análise de um trabalho de arte? No princípio da arte modernista, bastava conhecer as características do movimento, ter bons olhos, cérebro, e pronto. No entanto, a partir de Duchamp, que chamou a atenção para uma arte mais conceitual que de retína, as coisas se complicaram. Essa obra de Duchamp só faz sentido no seu conceito original, e se não se o conhece, dificilmente ela é considerada obra de arte. E isso se desenvolveu a níveis muito grandes, onde para uma análise mais confiável, é necessário conhecer mais obras do artista, conhecer um mínimo de sua bibliografia, e muitas vezes apelar para entrevistas e escritos dele, senão não há sígnos em comum o suficiente para que se esclareça o que se quer. Um artista desses, pelo menos é como vejo, é Joseph Albers. Embora muito bom, suas performances era por demais obscuras para que se tivesse qualquer certeza sobre o que se fala. Um exemplo é uma performance que fez com um coelho morto, alguns sinais ocidentais e orientais. Em dado momento, ele se achega a uma placa de ferro e a chuta. Depois revelou que esse ato, chutar a placa, falava sobre a dura e fria jornada transiberiana. Óbvio, não?

Ouvi numa palestra certa vez um comentário a esse respeito, onde se falou que na arte contemporânea, os artistas acabaram criando "idialetos", ou seja, uma linguagem que ele e alguns compreendem, e entender um artista acaba sendo entrar no seu mundo, no seu íntimo e desvendar seu subjetivo. O foco às vezes acaba saindo da obra e passando a seu próprio criador. Esse é um dos pontos pelo qual uma bienal de são paulo é tão incômoda para a maioria das pessoas. E hoje, o que não é entendido, é rechaçado. Simples assim.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

...pós-minimalismo...

Devo pedir desculpas... Sim. Conheci faz pouco tempo um "novo" termo (entre aspas porque, afinal, tudo hoje em dia possui um 'pós' dele mesmo...daqui a meses, teremos os pós-blogs, pós-windows, pós-sorvete-de-limão...)... não sabia que existia o pós-minimalismo, mas de qualquer maneira, não muda muito os tópicos anteriores.

O pós-minimalismo é a apropriação das propostas estéticas e estilisticas do minimalismo, adicionando um "quê" conceitual do artista. Em geral, as obras minimalistas são, como colocado anteriormente, inserções estéticas em ambientes específicos, onde a obra é a percepção fenomenológica do observador em relação à obra. Isso em linhas bastante gerais. O pós minimalismo é a expanção desse universo, com um conceito inerente ao objeto. Exemplos de artistas pós-minimalistas: Eva Hesse (possui um post nesse blog), Richard Serra, Bruce Naumann, etc. Bem que eu desconfiava que a proposta deles acabava transgredindo o basicão do minimalismo puro...

O trabalho, Head Fountain, ao lado é do artista Bruce Naumann, e foi apresentado na Bienal de Veneza em 2007. O artista possui forte ligação com a "process art", arte do processo, onde, obviamente, o processo do fazer artístico é o fundamental, a obra de arte está na ação. Daí sua ligação com o minimalismo, primeiro movimento a chamar a atenção à "inter-ação" entre artista, obra e ambiente.
Trata-se de um trabalho bastante enigmático, de, não nego, difícil leitura. E demorou um bom tempo até eu chegar a alguma proposta de idéia do trabalho. É, no entanto, um trabalho presencial, já que multi-sensorial (em especial visual e auditivo).
A fonte, o objeto fonte, é tido como uma das primeiras formas de arte pública, e consequentemente, remete a universos públicos, com certo grau de interação de pessoas. A obra, no entanto, é composta de uma única pessoa, ou pelo menos o indício de sua presença em algum momento. Sua marca, seu rosto, sua identidade. A mascara possui uma mangueira na boca, que incessantemente, despeja água dentro de um tanque, onde há uma torneira, na qual a mangueira se liga. O movimento claramente é infinito, a água gira no mecanismo, a que cai é a mesma que logo mais sairá da torneira.
O jogo interessante no trabalho é verificar a ação total. A água sai pela boca, ou entra pela boca (já que se trata de um negativo de um rosto)? Trata-se de um interior, ou exterior? Onde é um, onde é outro? Ou melhor, é tudo questão de referencial? É tudo relativo? Qual é a verdade? De qualquer forma, a verdade está na cara: uma mascara de gesso, com uma mangueira na boca, despejando água num tanque. Alguém duvida disso? E, ligando ao fato de ser uma fonte de uma pessoa, a obra funciona como um "diálogo solitário", ou seja, uma pessoa que absorve o que "sai" apenas da própria boca. Ou isso também depende do referencial?
Para terminar, uma frase do artista: "If I was an artist and I was in the studio, then whatever I was doing in the studio must be art. At this point art became more of an activity and less of a product." - Bruce Naumann