sexta-feira, 31 de julho de 2009

...inovando no design...

Pode parecer deslocado, mas o Digerindo Arte apoia a iniciativa de seus amigos, ainda mais quando são interessantes. Não vou me delongar demais, aqui vai o link para onde interessa. O nome da iniciativa? Bem, simples: Design Simples.

Para uma breve esplicação sobre o que é o projeto todo, podem acessar o post do estudio-cinco.

Apenas uma pequena pincelada: Design Simples é um portal de Inovação em Design, onde se divulgam trabalhos invadores de estudantes, além de informações relevantes a quem deseja ter algum incentivo nessa prática tão escassa no Brasil, que é a inovação.

Desejo boa sorte a essa iniciativa, e aqui vai minha contribuição momentânea para que mais gente conheça o projeto.

terça-feira, 28 de julho de 2009

...fazendo mundos...

Finalmente aqui comentarei algumas coisas da bienal de veneza desse ano.

A work of art is more than an object, more than a commodity. It represents a vision of the world, and if taken seriously must be seen as a way of “making a world”. A few signs marked on paper, a barely touched canvas, or a vast installation can amount to different ways of world-making - Daniel Birnbaum _curador da 53a Bienal de Veneza
Tendo como tema geral "making worlds / bantin duniyan / 制造世界 / weltenmachen / construire des mondes/fazer mundos", o texto do curador se mostra bastante explicativo (e inclusive essa sucessão de nomes em diversas línguas). E é até interessante se pensar numa mostra mundial, onde cada país chega com seu próprio mundo de artistas, e cada artista com seu próprio idioleto, tentar criar um todo do panorama artístico seria impossível.

O que nega esse fato é um: o mundo se faz com pessoas diferentes. Cada pessoa é seu mundo, e possui sua maneira (mais ou menos eficiente) de fazer parte dele, mas todas fazem, todas deixam algo, e assim todos "fazem mundos". E no plural, pois é nos outros que as pessoas constróem seus mundos: numa conversa, dois mundos se misturam, numa bostagem de blog, mais mundos se misturam, se fazem (e se faria melhor se meus leitores deixassem comentários... mas...). E na Bienal, são os artistas que falam com o público. E esse cria seus diálogos próprios com as obras, e entre elas também, fazendo relações entre elas, aprimorando seu próprio mundo.

Num dos mundos que se apresentam, encontramos a artista Lygia Pape (1927 - 2004). Cria para o espectador uma instalação visual onde, através de fachos de linhas ligadas a pontos no teto e no chão, apresenta colunas de luz, nos expõe um modo diferente de perceber o espaço, ilusoriamente, geometrizando-o, e sublimando-o com um claro equilíbrio formal e luminoso. Ao escurecer a sala, aumenta essa sensação de imersão, assim como a escala admitida pela obra. O nome da obra é "Ttéia", que remete a teia, mas com certa brasilidade (tetéia seria algo bonito, gracioso). Ligações que se efetivam entre mundos, planos opostos, e que necessariamente produzem um efeito, que positivo, quer negativo. A ligação de mundos não são nunca estéreis, mas sempre deixam a marca de uma possibilidade, ou de uma necessidade.

Outro artista que trabalhou com relações e construções espaciais foi o argentino Tomas Saraceno. Criou essas especies de globos de linhas, gerando planos exagonais, cantos triangulaes, tensões em todas as direções, que aparentam expansão . Se pode andar por entre esses grandes globos, que sustentam uns aos outros, cada um com seu próprio núcleo, mas que não permaneceria erguido não fossem. São galáxias, e as galáxias reais também interagem entre si, se consomem, consomem outras galáxias, leis gravitacionais universais as aproximam, ou não, e um nem número de acontecimentos físicos influenciam o complexo geral do universo. O mesmo paralelo de tudo isso existe entre as pessoas, quer no plano econômico, quer no plano relacional, afetivo, emocional, cultural, natural, etc.

Não é necessário me delongar nessas relações que se apresentam, o leitor já certamente percebe que não são obras aleatórias, e que a metáfora que se apresenta ao observador é algo que torna a obra com um sentido completo, que atribui a significação necessária para que faça sentido em si.

Outra artista que trabalha o tema de relações, mas para um plano mais negativo, é Raquel Paiewonsky. Sua obra para a exposição cria seres mutantes, com um conceito bastante forte. Remete-me a hibridações irracionais que o meio social pode nos levar a cair. Exageradas modificações corporais para adequar-se a padrões, ou mesmo se pensarmos em personalidades, a integridade de caráter não necessariamente é algo que se vê claro nas pessoas, que tendem a criar braços diversos para lidar com cada pessoa, ou personalidades bizarras que variam conforme o local onde estão (ou meio, como demonstra as relações que se criam na internet)... E cada mutante criado pela artista espelham esse modo diferente que podemos atuar: essa é a palavra correta, a vida num grande palco, onde as pessoas se apresentam nos mais variados figurinos e personagens, mas sem saber realmente qual é a da pessoa que está próxima dela. Criam mundos particulares, onde nele podem ser o que são, mas que na interação com outros mundos, assumem uma atmosfera que não a sua realmente (para mais fotos das obras da artista, aqui vai um link).

Enfim. Encerro aqui esse post. Recomendo que os leitores interessados dêem uma olhada em duas fontes muito boas para mais sobre a Bienal: Designboom e o Flickr.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

...o fim da vida...


O post sobre a Bienal de Veneza será o próximo. Gostaria de colocar aqui brevemente algumas considerações sobre o estupendo conto de Leon Tolstói "A morte de Ivan Ilitch". Considerada por alguns como uma de suas melhores obras, mesmo contendo singelas 85 páginas quando comparada com as magistrais mais de 1200 páginas de "Guerra e Paz", nessa pequena história, Tolstói conseguiu o máximo da consisão e expressão da vida de um homem de seu período, até seu agoniante fim, que invariavelmente toca e marca profundamente o leitor. Não colocarei aqui um resumo da história, mas irei diretamente à análise.

Ivan Ilitch é um burguês comum, e claramente pode ser tido como um homem comum, como cada um de nós, e isso pelos seus problemas, e o modo como os trata: em geral, a fuga.

Quando começa a ter problemas com sua esposa, procura sua fuga no trabalho; quando está de férias e entediado, procura uma fuga na busca por novo emprego; quando doente e com dores, procura a fuga na crítica aos demais. Sua mulher não faz diferente: desde o início, foge da realidade, e "atua" diante da morte de seu marido, quando já não mais se importava realmente com isso; quando o marido doente não melhora, da mesma maneira foge da responsabilidade de esposa, jogando a culpa nele por "não tomar os medicamentos nos horários certos". Os doutores fogem da verdade atrás de termos médicos e suposições que sabiam errôneas. E todos fogem da realidade de serem homens, escondendo-se atrás da máscara do dinheiro e da ostentação.

No final do texto, essas máscaras irritam Ivan, ele não mais suporta as "mentiras". No entanto, é evidente o motivo por não as aturar: defronte com sua morte, enxerga nessas fugas a sua vida inteira. Vê em sua mulher o que fez a vida toda. Fugir da realidade. Fugir dos outros, se esconder da verdade.

É bastante comovente, no entanto, como retorna a ela: conversa com sua consciência, tenta enganá-la dizendo de sua boa vida, mas acaba sucumbindo à verdade; enxerga no mujique Guerássin um homem bom e verdadeiro; vê em seu filho à beira da sua cama, chorando, o verdadeiro amor familiar, coisa que não vira até o momento, nem em seu (conveniente) casamento. Enfim, vê a verdade.

Solzhenitsyn, em seu também estupendo romance "Pavilhão de Cancerosos" percebe isso em Tolstói, quando do diálogo de dois de seus personagens, Rusanov e Efrem, a respeito de um dos livros de Toltói:

-¡Esas son pavadas! -dijo Rusanov, haciendo silbar la "s" de indignación-. ¿No podría cambiar el disco? Se huele a un kilómetro que ésa no es la moral nuestra. Y por lo demás, en su libraco ¿qué es lo que hace vivir a la gente, pues?


Efrem había parado de narrar y había vuelto sus ojos hinchados hacia su interlocutor calvo. Se sentía despechado de que el calvo hubiese asestado un golpe tan certero En el libro estaba escito que lo que hace vivir a los hombres no es el egoísmo, sino el amor al prójimo. El viejo quisquilloso había dicho: "El hombre vive de causas comunes". Era aproximadamente lo mismo.


-¿Lo que lo hace vivir?... Ni siquiera se atrevía Efrem a pronunciar la palabra en voz alta. Era casi inconveniente-. Pues bien, el amor, como dice él. ..


A verdade e o amor são inseparáveis, pois não há nada mais sublime na existência do homem que a caridade, nada que o faça mais grandioso diante de si do que amar aos demais. Da mesma maneira, não há nada que satisfaça mais ao homem que a verdade. Dois pontos fundamentais à felicidade, e é isso que Ivan Ilitch encontra ao final de sua vida: amor, verdade e felicidade.

Aqui, um link para outro comentário sobre o texto: link.