quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

...história sem fim...

A História sem Fim, publicado pela primeira vez em 1985, de Michael Ende, é daqueles livros que te prendem página a página, parágrafo a parágrafo, até que esteja acabado. É... Paradoxalmente, a História sem Fim acaba. Com uma linguagem acessível, muitas vezes lembrando um livro infantil, a essência do livro é a própria literatura em si. Tentarei falar do livro sem estragá-lo para aqueles que ainda não o leram...


Afirmo que o livro fala do livro, que fala da palavra, da letra, etc., pois, sendo a palavra a matéria prima de uma história, A História sem Fim aborda justamente esse tema: a criação de uma história. No decorrer desta, mais histórias são criadas, e dentro destas, outras são citadas: um fato leva a outro. Um pequeno acontecimento por mais aleatório que pareça desencadeia uma sucessão de coisas as quais mal se imaginaria no princípio! E não estou falando apenas do livro, mas da vida. E o que é um livro de histórias senão uma vida que se vive com o outro? Justamente é esse um dos motivos da História sem Fim: mostrar ao leitor que um bom livro é aquele que o leitor sai diferente, como Bastian no final. Viver uma vida diferente da sua na pele de outro personagem deve modificá-lo no final da história, se não, foi perda de tempo. Além disso, há outros meios que Michael Ende usa para falar de literatura: poesia é um dos mais correntes, encontrado em trechos como a conversa comUiulala, o oráculo, ou das canções, etc.
Há um trecho em especial que gostaria de colocar, que é quando o personagem principal da história, Bastian, está lendo o livro, e o toque de um relógio de torre o distrai. " Os pensamentos de Bastian regressaram contrariados à realidade. Sentia-se contente por a História Sem Fim nada ter a ver com a realidade. Não gostava dos livros que, com mau homor e acidamente, narravam acontecimentos vulgares, da vida absolutamente vulgar de pessoas absolutamente vulgares. Conhecia muito bem tudo isso da sua vida real (...)". É interessante a visão do garoto, de dispensar esse tipo de livro, diferenciando a realidade da história da sua. Como mencionado antes, uma boa leitura é aquela que mexe com a pessoa. Há de fato, histórias que o autor é mais seco e direto, como nos Russos, ou Saramago; e há outras histórias que tudo é feito por meio de metáforas, e esse é o caso de A História sem Fim. Não afirmo ser mais rico ou não uma comparada a outra, é questão de gosto. Eu, particularmente, gosto de ambas. E A História sem Fim merece o gosto de todos.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

...la guitare...

A Guitarra, 1914, de Pablo Picasso, foi um marco na história da escultura. O Cubismo já se vinha sendo desenvolvido há alguns anos pela europa, com o próprio Pablo e com Braque à frente do movimento. Com o intuito de demonstrar uma nova maneira de encarar a realidade, o cubismo abre mão das emoções, das impressões, e de tudo que meche com a percepção pura e simples, para criar uma nova maneira de figuração.
Como a perspectiva não passa de ilusão, de uma brincadeira que se faz com o olhar e com a mente do espectador, o cubismo resolve dar ao espectador diversas vistas que não teria de apenas um ponto de vista. São vários lados de um mesmo objeto representados planificadamente.
A Guitarra é a aplicação desse conceito à escultura. Além disso, o material, a execução, a aparência, a falta de acabamento, etc., tudo é um questionamento do que se vinha fazendo até o momento no campo da escultura. Não há polimento, nem aparação das rebarbas, o material se encontra no estado bruto, revelando e expondo um violão de maneira que a percepção usual não o perceberia. Para isso que a arte cubista veio: para ampliar os horizontes do que se entendia por aparência, por visão, por ilusão, e, finalmente, por realidade, afinal, a realidade subjetiva é formada pela percepção dos sentidos e intuitiva, e essa escultura, por exemplo, expande o que se pensa como um violão. Leia mais sobre a guitarra de picasso no site do MoMA, onde ela agora se encontra exposta.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

...construtivismo...

Kandinsky inicia a abstração com uma pequena aquarela em 1910. Malevich começa o suprematismo com Quadrado Preto sobre fundo Branco. Tatlin inicia seus relevos. E assim começa a odisséia do construtivismo. Depois o Neoplasticismo, por fim, sob o nome genérico que engloba a todos meios de abstração geométrica, arte Concreta.

Lázlo Moholy-Nágy, artista partidário dessa teoria construtivista, e professor da Bauhaus, desenvolveu uma vasta pesquisa nesse campo, se destacando no campo da ótica e iluminação.


Nesse trabalho, Mobile, de 1940, Moholy-Nágy resume toda sua pesquisa sobre luz e espaço. Justamente essa pesquisa desencadeiraria nos trabalhos de Flávin, como mencionado em post anterior. O nome Mobile já mostra a natureza da escultura: uma peça pendurada, deslocada do chão. É possível observar que é feita de plexiglass, um material escolhido a dedo pelo artista, pois remete à tecnologia, industria, e toda essa temática bastante em voga naquele período. Esse material, plexiglass, é transparente, portanto, permite a passagem da luz, e a luz passa de maneira diferente no meio dela e nas pontas. A obra de arte, assim, não está apenas no material, mas está no objeto, no seu movimento pelo vento, na luz que reflete dele, e na luz que o atravessa e se projeta sobre a superfície abaixo dele. E diferentes tipos de luz produzem diferentes tipos de reflexo.

Você pode encontrar mais trabalhos do artista no site The Moholy-Nágy Foundation. Vale a pena.

domingo, 27 de janeiro de 2008

...iberê camargo...


A verdade é estava evitando de falar de alguma obra de Iberê Camargo... Evitava porque o considero o melhor pintor brasileiro de todos os tempos, e falar dele portanto é algo difícil... E, sinceramente, estava com medo de falar dele, e acabar falando bobagens, embora tenha lido mais sobre ele do que sobre design, que é o que faço... Mas, não podia mais adiar...!
Essa tela se chama Carretéis (1958). Venâncio Filho o considera como um moderno tardio. Por essa pintura, é capaz de se perceber o porquê. O quadro é composto por desenhos de carretéis, o brinquedo da infância de Iberê, e o modo como os pinta, como os estrutura e dispõe no quadro demonstra forte influência cubista, que já se havia encerrado anos atrás. Os carretéis encontram-se empilhados, sem uma iluminação padrão, alguns estão até mesmo chapados na tela. Essa fase de Iberê, a fase pré-abstrata, é a fase em que questiona sua própria maneira de pintar, rasgando, expondo, destruíndo a forma que aprendera em sua fase de estudo na Europa com De Chirico e outros pintores. E essa procura por uma nova forma, Iberê a procura por si. Não queria formulas prontas, e por isso sua passagem da figuração para a abstração, e de volta à figuração na década de 80.
Esse quadro está dividido como que pelo centro, verticalmente, com ambas metades quase simétricas. Nas pontas. temos duas estruturas verticais, de mesmo peso visual, uma branca, outra branca e azul. Há próximo ao centro um carretél isolado vermelho que chama a atenção para si, e trabalha de contrapeso para um carretél branco, ao lado direto acima. O olhar, a partir desse carretél, começa a pulular pelos carretéis brancos, e passa por três hastes verticais na parte debaixo. Com cores sóbrias e uma tonalidade escura, características de Iberê, o quadro sustenta-se justamente por essa combinação de cores, formas e relações. Postarei no futuro algo sobre sua fase abstrata. Por enquanto, visitem o site da fundação Iberê Camargo.

sábado, 26 de janeiro de 2008

...wish you were here...

Uma das propostas que me impus ao criar o blog seria tentar ver as coisas de maneira diferente do que elas são vistas normalmente. E por esse motivo, falarei agora de uma música, ou melhor, de dois álbuns sob a visão dessa música. Trata-se de Wish you were Here, do Pink Floyd.

A banda, em 1973, lançou o magnífico Dark side of the Moon, álbum que trata de riqueza, fama, loucura e morte. Antes dele, a banda apenas era conhecida no meio underground da músic. Depois, explodiu nas paradas, com o album permanecendo no topo de vendas por anos seguidos. De fato, a banda alcançara o que buscava: o sucesso levou a banda a conseguir toda a fama e dinheiro que trataram no disco.
Wish you were Here normalmente é visto como uma homenagem a Syd Barrett. É compreensível. Mas prefiro vê-lo como um desabafo com relação ao Dark Side. A riqueza veio... Mas e daí? Onde se chega agora? Tudo que se pensava era isso? O tom melancólico das músicas rimam com esse desabafo... Trechos das músicas o confirmam ainda mais... "Remember when you were young...you shone like the sun...", de Shine on you crazy Diamond, e o trecho "What did you dream? It's alright we told you what to dream", de Welcome to the Machine. Mas talvez a música que mais confunde o ouvinte quanto a sua temática seria Wish you were Here, que muito se confunde com a pessoa amada que está ausente. Pelo contrário, a música está encaixada nesse contexto de decepção e lamento, como vemos logo no princípio: "So you think you can tellHeaven from Hell". O que a sociedade colocaria como paraíso, como o máximo da felicidade, que é a riqueza e toda fama que eles conseguiram, não passou de inferno, de nada..."Running over the same old ground. What have we found? The same old fears... Wish you were here...". Penso que eles se refeririam, além do próprio Syd Barrett, aos próprios integrantes da banda, que ainda tocavam juntos, ensaiavam juntos, conviviam, mas... não como antes. Não estavam mais uns nos outros... E esse afastamento desencadeiaria no album The Wall e The Final Cut, ou seja, a ruína do Pink Floyd como banda, agora apenas como Roger Waters.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

...futuro do presente...



Está rolando no Itaú Cultural uma exposição de arte contemporânea intitulada "Futuro do Presente", com curadoria de Agnaldo Farias e Cristiana Tejo. Reune obras de dezessete artistas nacionais do mais alto calibre, com trabalhos fantásticos.

Sem Título, 2007, de Henrique de Oliveira, é um dos trabalhos que mais chamam a atenção dos visitantes, talvez pelo tamanho da instalação, talvez pela sua aparência, quem sabe? O fato é que o artista apodera-se de materiais de rua, como compensados de construções, e outras madeiras, montando um túnel onde o espectador adentra-se, e caminha por entre algo que parece uma concavidade corporea, de dimensões gigantescas. Ao pintar suas bordas de branco,o artista incorpora a instalação na arquitetura da sala de exposições, local usualmente limpo e neutro. De uma maneira Duchampiana, o artista aborda um aspecto ambiental, como vários outros na exposição, transformando o lixo, ser inanimado e apodrecido, em um ser de formas orgânicas, e o mais incrível, que chama a atenção do público e o convida para sua intimidade, para seu interior, seu conteúdo, coisa que o lixo em si dificilmente o faria. Assim, o material perde sua característica primordial de refuto apenas por estar num ambiente onde se espera encontrar arte e não lixo, embora mantenham-se suas características visuais e odoríficas.

A exposição segue até dia 10 de fevereiro, no Itaú Cultural. Av. Paulista, 149, metrô Brigadeiro. Site http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2799&CFID=1818192&CFTOKEN=61416113 .

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

...luz e espaço...


No primeiro post sobre arte propriamente dito, gostaria de escrever sobre um dos grandes artistas do Movimento Minimalista americano, Dan Flavin. O minimalismo foi um movimento que vigorou mais fortemente na década de 60, com artistas como Donald Judd, Carl Andre, Andre Buren, entre outros monstros. As obras minimalistas funcionam como intervenções espaciais, trabalhando com volumes, formas, luz e o espaço em si. Derivando do construtivismo, que já trabalhava nesse assunto de utilização do espaço, e incorporando elementos do Expressionismo Abstrato de Pollock, como a aleatoriedade, o minimalismo atua consequentemente de forma bastante intima com a arquitetura em si, que é a organização de espaços por excelência.
No caso de Flavin, seu material é a luz. Utiliza tubos de neon, coloridos ou branco, compondo no espaço com o material básico e intermediário de toda obra de arte: a luz. Sem luz, não se pode observar uma tela de Kansdinsky ou uma escultura de Rodin. Flavin não. Sua matéria é a luz própriamente dita, sem intermediários. E seu trabalho está na interação da luz com os ambientes onde são montados, portanto, são Site-specific, feitas para um lugar.
Um dos pontos interessantes de Flavin é que, a meu ver, resolve um dos problemas chaves do impressionismo, o abre alas do modernismo. Aqueles buscavam transmitir na tela suas impressões dos ambientes e paisagens. Flavin deixa que o próprio espectador tenha suas impressões do ambiente e das alterações que a luz causa neles, tendo, portanto, uma experiência tanto visual quanto espacial sem intermediários de nenhuma natureza.
Morreu em 1996, em New York, e possui um museu em seu nome, o Dan Flavin Art Institute, também em New York.

...para começar...

Hesitei um pouco antes de criar o blog... mas por fim... Exitei! Afinal, o pior que pode acontecer, é eu falar bobagem, e uma bobagem a mais, uma a menos, qual a diferença? Pelo menos, que sejam boas bobagens!
O motivo de criar o blog foi... bom... ah! Enfim! Não importa! O que importa é que gostaria de falar de arte, e entenda-se por arte TUDO que esse nome abarca... artes visuais, artes literárias, artes culinárias (por quê não?), sétima arte, arte, arte, arte... Em resumo, falar sobre arte!
Claro que o que postarei serão um amontoado de opiniões pessoais, impressões, pensamentos, análises, e coisas do tipo... Mas, pelamordedeus, que façam sentido! E esse é o primeiro post... o porquê do blog... Sinto pelo seu tempo perdido ao ler esse amontoado de bobagens (que, como temia, já começaram!)...