segunda-feira, 19 de maio de 2008

...tal pai, tal filho...

Constantin Brancusi, há quem diga, paradoxalmente, foi um minimalista. Bobagem. Seus trabalhos datam do início do século XX, contemporâneo a Rodin. No contexto em que se encontrava, é impossível o encaixar em alguma vanguarda. Não é cubista, nem expressionista, menos ainda geométrico, não é futurista, etc. Sua obra é única.

É comumente associado ao minimalismo pela sua linguagem limpa, sem adornos, sem firulas, nem qualquer coisa que ditraia o olhar do observador à forma e conteúdos básicos de seus trabalhos. No entanto, a linguagem industrial, ou a serialização, ou mesmo o diálogo da obra com o entorno, não existem em geral nos trabalhs de Brancusi. Há materiais que se aproximam mais, mas um link que poderia chamá-lo de minimalista, não.

Mas também não se pode negar que tenha sido forte influência a artistas da estética minimal, como o próprio Carl Andre afirma (este desenvolveu trabalhos que remetiam e se relacionavam com a coluna infinita de brancusi, por exemplo). Já foi postado algo sobre ele.

Esse trabalho do artista chama-se "Passaro no Espaço". Possui variações em outros materiais do mármore. A beleza do trabalho está na simplicidade da forma como brancusi representa uma ave. Não a expõe claramente ao observador, não escancara seu conteúdo, mas deixa apenas signos do que seria. Ave no espaço remete instantaneamente a vôo, a movimento, mas ao mesmo tempo, estabilidade, graça. O sígno escolhido pelo artista para expressar todas essas características é precisamente um rasgo no espaço, um traço de um momento instantâneo que uma ave cortaria determinada região, associado a leveza do próprio material que, embora seja pedra, é leve ao olhar, e liso e quase que macio ao tato visual. O olhar vai deslizando, escorregando pelo entorno do trabalho, que possui linhas bastante suaves, mas decididas.

Há um site no nome do homem, mas que servirá apenas pela sua história e livros sobre ele...


E aqui, link para post no Blog do Noblat no qual usa trecho desse post sobre Brancusi, complementando-o com um pouco da sua história.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

...minimalismo tupiniquim...

O título é apenas uma ironia. O Neoconcretismo não realmente é uma versão brasileira do movimento americano, mas partilha de muitos pontos. Um deles é a crítica ao positivismo na arte, defendendo a fenomenologia, dessa forma assumindo ao trabalho artístico características subjetivas tanto inerentes ao material quanto ao observador que visita a exposição.


O Neoconcretismo é a famosa briga da arte no rio contra a paulistana, onde dominavam os concretos. Picuinhas à parte, o Neoconcretismo é praticamente a primeira tendência moderna completamente brasileira, desenvolvida a partir de tendências européias.

Os pontos divergentes do minimalismo americano e do neoconcretismo é, além de outras coisas, no ponto quanto ao papel da indústria no trabalho. Enquanto os minimalistas lançavam mão dessa não só em seus materiais, mas no modo de contruílas, os neoconcretos negam a indústria e seu papel dentro de uma obra de arte, reagindo dessa forma a um dos pontos do construtivismo.

Ambos também assumem em suas obras o quesito tempo. Os construtivistas, como Naum Gabo, o fizeram introduzindo motores e movimento em suas obras. Já o minimal e o neoconcreto o fizeram introduzindo o observador no contexto da obra, sendo seu tempo de interação e de observação da obra o ponto diferencial.

A obra acima é de Hélio Oiticica, mas não encontrei seu nome. Visitem a página da sua retrospectiva que aconteceu na Tate Modern , em londres.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

...bolhas ambientalóides...

Não, não esqueci que iria falar de um artista português, mas é que procurando uma boa exposição para ir, achei no site do Centro Cultural Banco do Brasil uma exposição da artista Sonia Guggisberg , e pesquisando mais sobre seus trabalhos, não resisti e decidi postar algo sobre ela.

Segundo o site do próprio banco, Sonia é uma artista da década de 90, com algumas exposições importantes no curriculum, e um trabalho bastante consistente. Por meio de inserções inusitadas, interferências, e instalações, aborda um tema bastante em voga no circulo ambientalista, que é o problema da água. Não é a primeira artista a tratar dele, Cildo Meireles já o fez em seu trabalho "Elemento desaparecendo, elemento desaparecido", trabalho no qual cria sorvetes de água e os vende ou dá a quem quiser, com uma frase no palito "elemento desaparecendo", que depois de completamente consumido, se pode ler "elemento desaparecido", trabalho esse que inclusive esteve "exposto" (sé é que se pode falar assim dele...) na no itaú cultura no início de 2008.

Embora ambos tratem da água, a abordagem acaba sendo diferente. Cildo coloca-a como algo inerente ao homem, o faz consumir seu objeto de arte, que só existe por certo tempo. Ou é devorado pelo "consumidor" de arte, ou se desfaz por si só. Já Sonia, em sua série Bolhas Urbanas (2006-2007), usa-a como material parte de suas obras, que podem ser permanentes, embora mutantes. Possui um carater muito mais visual que interativo.
São como que oasis em meio à selva de concreto, isolados por finas e transparentes camadas plásticas, que permitem que de fora se veja o interior, se veja as gotas de água que se condensam na superfície interna da bolha pela evaporação, ao mesmo tempo, incitam ao toque, pois parecem moles, frios, etc, atraíndo o observador a aproximar-se, parar, reparar, afinal, são plasticamente bastante belas. Possuem uma forte vitalidade, pois remetem às estufas onde se criam plantas, ou mesmo a ambientes ideais para proliferação de seres. É um lugar deslocado, isolado, ao mesmo tempo que inserido e atuante na paisagem.
Há mais sobre a artista no Canal Contemporâneo.