quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

...as coisas como elas são...

Esse é um post deslocado. É simplesmente um comentário pontual de uma situação que aconteceu, e que vi que talvez valesse a pena escrever sobre, e tratar brevemente e de forma tímida sobre.

Não tem nada tão bom quanto conseguir enxergar as coisas como elas são. Isso é, simplesmente, aliviador. Estou falando da realidade em si, das relações, e de tudo que rodeia e permeia nossas vidas.

No último post do ano passado, no qual se comentou a respeito das tirinhas do Calvin, me vem na cabeça isso. Agora mais claro do que nunca. Ver claramente as coisas é a chave para viver. O homem tende a criar situações, a criar mundos paralelos nas coisas, procurar motivos dentro daquilo que simplesmente é o que é, e criar até mesmo fatos (ou interpretações de fatos) para adequar a realidade à maneira que melhor lhe convém naquele momento.

E isso só acontece se o homem se fecha. Fecha a si mesmo de receber do mundo o que ele se dispõe naturalmente a oferecer. E que é tão bom o que ele nos oferece! Tanto em relacionamentos com outras pessoas, quanto no simples vivenciar fenomenologicamente a realidade, e receber sensivelmente aquilo que chega a nós.

Calvin naquela última tirinha fecha com a frase "It's a magical world, Hobbes, ol'buddy... Let's go exploring!". Comentei essa mesma coisa a respeito dessa frase, mas é estranho como, de repente, ela se torna muito mais paupável e clara, e como a chave para viver. Pois o mundo é realmente mágico, o homem é um ser mágico, no sentido de ser complexo e misterioso, e desvendar o homem é uma façanha que muitos tentam empreender. E, acredito, que só se o faz bem quando se está empenhado em verificar na realidade o que nela acontece. Quando se está proposto a se abrir à realidade. A deixar-se permear por essa realidade. A sofrer eventualmente o que essa realidade pode oferecer (pois é a única coisa que ela pode. É o que ela é).

O que me lembra uma das músicas que mais gosto do Pat Metheny, que se chama "As it is". É instrumental, portanto, num tenho como falar da letra, mas ela vale ser ouvida.



A melodia da música é simples, ela, a meu ver, apresenta claramente esse abrir-se. Estar para o mundo, e comprometer-se em aceitar o que ele nos mostra. Comprometer-se pois nem sempre é o que queremos ver, mas sim algo que pode doer, que podemos querer discordar, que não vemos lógica em aceitar, etc. Mas que é como as coisas são. "Let's go exploring!", e explorar e aceitar o que encontramos. Simplesmente aceitar "As it is"...

Nunca quis fazer desse blog algo pessoal, que eu contasse causos internos meus, ou coisas pessoais. Acho que já existem blogs demais desse tipo, e que o que eu sinto não realmente interessa aos outros, que ninguém de verdade se interessa pelo tenho a dizer. Mas, na verdade? Acho que me iludi nisso... Meu blog SEMPRE foi assim, nunca teve acessos significativos, nem comentários nem nada. Assim, a existência dele já foi um extravasamento per si, e que, realmente, nunca interessou aos outros, mas que foi bom escrever! Foi bom pensar e colocar tudo isso aqui, para que eu mesmo lêsse, e visse como as coisas mudaram, evoluiram, ou quanta besteira eu falei, etc. E, junto disso, eu consigo agora ver bem mais claramente como as coisas são... Pessoalmente e extra-pessoalmente, e intra-pessoalmente. E estou feliz com isso... Muito feliz e aliviado!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

...meu melhor texto...

Bom, já que esse blog está bastante avacalhado (terminou, mas nem tanto; está no ar, mas ninguém entra; ainda existe, mas ninguém posta...), vou tratar de aceitar sua situação e começar a avacalhar também. Postarei a seguir o melhor texto que já escrevi na vida. Trata-se de um comentário a cerca de um evento que aconteceu ano passado, quando adubaram os jardins da minha amada faculdade, a famosa FAU. É ao menos divertido... Havia me esquecido dele, mas encontrei no site da Lú, nossa companheira noturna na FAU. Espero que apreciem!


Só resta bosta sobre bosta - ou uma visão histórico-sociológica sobre o presente odor FAU-USPiano (ou apenas um texto para entrar na brincadeira...)

Por: Eduardo Camillo K. Ferreira
digerindoarte.blogspot.com

São realmente interessantes os comentários que se vêm delineando a respeito da nova ambientação da FAU, principalmente o que se tem falado sobre seu odor temporário (tempo esse que já se delonga por incontáveis duas semanas e meia). Mas há um ponto que não se tem atentado, que é o fato de essa atitude dialogar com o contexto pós-moderno da sociedade, e o presente texto visa justamente expor e justificar essa posição.

Sem entrar no mérito da justificativa ou não desse termo (o pós-moderno), assumamos como o que aconteceu em seqüência ao alto modernismo. A movimentação do centro artístico mundial da Europa para os Estados Unidos, mais precisamente em Nova York e o expressionismo abstrato; observamos que a bosta aí começa. Não, caros amigos, não estou tentando subverter algo incomparavelmente gracioso como a sólida obra de Pollock, mas sim o contexto por detrás de tudo que aconteceu.

A transposição desse centro para a América expõe a fragilidade anteriormente presente na produção européia, desde seus primórdios modernos, o impressionismo. Desse ponto em diante, a liberdade do artista se mostrou inclusive maior que seu próprio ego, e a palavra novidade foi o paradigma instaurado no meio de produção das artes, com a eleição de intérpretes conceituais, os chamados críticos, para abrir os olhos dos ignorantes frente a essa enxurrada de projetos artísticos tão "avant-garde" quanto o urinol dentro do museu. É aqui que começou o redemoinho digestivo, que mais tarde acarretaria na diarréia presente na FAU.

Enfim, dentro desses movimentos artísticos europeus, o grau de idealismo presente em todos, desde as vertentes positivas até as negativas, foi algo realmente louvável, embora tenha sido a primeira flatulência do por vir "esmerdeio". A idealização do ente homem como algo lógico acabou por levar ao fracasso a odisséia moderna, já que estes esqueceram do indivíduo e seu subjetivo (vagamente lembrado apenas no expressionismo alemão). É nesse ponto, amplificado pelo pós-II Guerra e seu subseqüente "individualismo", que encontramos esse teletransporte transatlântico (ou trans-asio-pací¬fico, dependendo da referência), quando a potência americana tomou para si o posto de cabeça do mundo das artes, justamente com um movimento artístico individualista e egocêntrico como foi o expressionismo abstrato, temerosamente e desastrosamente copiado por artistas ingleses, que construíram um histórico de obras extremamente frágeis, e que reafirmavam a fragilidade do homem ideal positivista (Argan). Aqui, já estamos na "freada na cueca".

A história nos mostra que a seqüência dessa história desembocaria nos movimentos subjetivistas setentistas, onde a arte conceitual e o universo particular de cada artista passariam a ser a "bosta paradigmática", a referência máxima do "pra-frentismo artístico", e a conseqüente morte da pintura na década de 80, e sua ressurreição em 90 (diga-se de passagem, esse foi o ponto onde a humanidade estava cagando e andando...).

É interessante observar esse contraponto: o homem ideal passa a ser o homem individual, as bases cartesianas são substituídas pela fenomenologia da percepção Merleau-Pontyiana, e a racionalização deixa seu posto para a subjetivação. Opostos tão grandes quanto o próprio atlântico. Mas, mesmo assim, mesmo com essa grande distância diametral entre esses pontos, a desencadeação de um para outro é a mesma que comer maionese estragada: a merda é inevitável.

E onde entra a FAU aqui? Justamente nessa transição: uma construção moderna idealista em pleno momento de ascensão pós-moderna (1969), ou seja, a merda atrasada, mais conhecida como prisão de ventre. E para soltá-la, nada mais eficiente do que um bom laxante: o projeto da FAU como um todo. E como merda grande sempre vira referência, lá está o grandioso e benevolente (benevolência essa muito bem apresentada pelo aluno Kiyoshi) tombamento do prédio.

No entanto, os alunos, funcionários e diretores trataram de readequá-la aos novos tempos: a sujeira entendida como ruído sendo algo desejável, a liberdade absoluta característica do modelo pós-moderno de vida de poder colar e rabiscar o quanto quiser seu interior, como um projeto de design de interiores feito a milhares de mãos extremamente habilidosas (lembrar do desenho no banheiro masculino onde há a representação do cartaz da primeira "FAU MOSTRA DESIGN", mas com a excelente e muito boa adaptação para "FAU BOSTA DESIGN". Conheço o autor, mas vou privá-lo da fama). Junto a essa ação dos alunos, nossos diretores e funcionários nos colocam agora a cereja do bolo: a bosta. A merda. O excremento. As fezes. A titica. Os dejetos. O pior-do-homem. O cocô. Enfim, o produto de coloração amarronzada proveniente de organismos pluricelulares, normalmente vertebrados, e mais evoluído nos mamíferos. E se pensarmos o cheiro como partículas em suspensão do objeto de origem, podemos assumir que estamos nadando na merda, respirando a bosta, interiorizando, por fim, esse ambiente pós-moderno.

Sem querer parecer presunçoso, mas minha pessoa já havia profetizado esse momento 2 anos antes, em trabalho realizado para a disciplina de Projeto Visual 4, ministrada pelos professores Marcelo Bicudo e Takashi Fukushima, onde lancei mão da fonte eletrônica Platelet para criar o trabalho chamado por mim de "BOSTA PÓS-MODERNA", naquele momento rechaçado por ambos os professores. Hoje, eles respiram essa mesma Bosta pós-moderna que nós.

Concluindo, o presente ensaio expôs alguns pontos históricos e sociológicos, e o porquê desse horrível fedor que invade e infecta nossos pulmões, de modo a que paremos de culpar nossos administradores, e passemos sim a assumir nossa parcela de culpa pelo ocorrido, já que fazemos parte da humanidade, e é dela que veio a bosta pós-moderna.

Eduardo Camillo K. Ferreira