segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

...meu melhor texto...

Bom, já que esse blog está bastante avacalhado (terminou, mas nem tanto; está no ar, mas ninguém entra; ainda existe, mas ninguém posta...), vou tratar de aceitar sua situação e começar a avacalhar também. Postarei a seguir o melhor texto que já escrevi na vida. Trata-se de um comentário a cerca de um evento que aconteceu ano passado, quando adubaram os jardins da minha amada faculdade, a famosa FAU. É ao menos divertido... Havia me esquecido dele, mas encontrei no site da Lú, nossa companheira noturna na FAU. Espero que apreciem!


Só resta bosta sobre bosta - ou uma visão histórico-sociológica sobre o presente odor FAU-USPiano (ou apenas um texto para entrar na brincadeira...)

Por: Eduardo Camillo K. Ferreira
digerindoarte.blogspot.com

São realmente interessantes os comentários que se vêm delineando a respeito da nova ambientação da FAU, principalmente o que se tem falado sobre seu odor temporário (tempo esse que já se delonga por incontáveis duas semanas e meia). Mas há um ponto que não se tem atentado, que é o fato de essa atitude dialogar com o contexto pós-moderno da sociedade, e o presente texto visa justamente expor e justificar essa posição.

Sem entrar no mérito da justificativa ou não desse termo (o pós-moderno), assumamos como o que aconteceu em seqüência ao alto modernismo. A movimentação do centro artístico mundial da Europa para os Estados Unidos, mais precisamente em Nova York e o expressionismo abstrato; observamos que a bosta aí começa. Não, caros amigos, não estou tentando subverter algo incomparavelmente gracioso como a sólida obra de Pollock, mas sim o contexto por detrás de tudo que aconteceu.

A transposição desse centro para a América expõe a fragilidade anteriormente presente na produção européia, desde seus primórdios modernos, o impressionismo. Desse ponto em diante, a liberdade do artista se mostrou inclusive maior que seu próprio ego, e a palavra novidade foi o paradigma instaurado no meio de produção das artes, com a eleição de intérpretes conceituais, os chamados críticos, para abrir os olhos dos ignorantes frente a essa enxurrada de projetos artísticos tão "avant-garde" quanto o urinol dentro do museu. É aqui que começou o redemoinho digestivo, que mais tarde acarretaria na diarréia presente na FAU.

Enfim, dentro desses movimentos artísticos europeus, o grau de idealismo presente em todos, desde as vertentes positivas até as negativas, foi algo realmente louvável, embora tenha sido a primeira flatulência do por vir "esmerdeio". A idealização do ente homem como algo lógico acabou por levar ao fracasso a odisséia moderna, já que estes esqueceram do indivíduo e seu subjetivo (vagamente lembrado apenas no expressionismo alemão). É nesse ponto, amplificado pelo pós-II Guerra e seu subseqüente "individualismo", que encontramos esse teletransporte transatlântico (ou trans-asio-pací¬fico, dependendo da referência), quando a potência americana tomou para si o posto de cabeça do mundo das artes, justamente com um movimento artístico individualista e egocêntrico como foi o expressionismo abstrato, temerosamente e desastrosamente copiado por artistas ingleses, que construíram um histórico de obras extremamente frágeis, e que reafirmavam a fragilidade do homem ideal positivista (Argan). Aqui, já estamos na "freada na cueca".

A história nos mostra que a seqüência dessa história desembocaria nos movimentos subjetivistas setentistas, onde a arte conceitual e o universo particular de cada artista passariam a ser a "bosta paradigmática", a referência máxima do "pra-frentismo artístico", e a conseqüente morte da pintura na década de 80, e sua ressurreição em 90 (diga-se de passagem, esse foi o ponto onde a humanidade estava cagando e andando...).

É interessante observar esse contraponto: o homem ideal passa a ser o homem individual, as bases cartesianas são substituídas pela fenomenologia da percepção Merleau-Pontyiana, e a racionalização deixa seu posto para a subjetivação. Opostos tão grandes quanto o próprio atlântico. Mas, mesmo assim, mesmo com essa grande distância diametral entre esses pontos, a desencadeação de um para outro é a mesma que comer maionese estragada: a merda é inevitável.

E onde entra a FAU aqui? Justamente nessa transição: uma construção moderna idealista em pleno momento de ascensão pós-moderna (1969), ou seja, a merda atrasada, mais conhecida como prisão de ventre. E para soltá-la, nada mais eficiente do que um bom laxante: o projeto da FAU como um todo. E como merda grande sempre vira referência, lá está o grandioso e benevolente (benevolência essa muito bem apresentada pelo aluno Kiyoshi) tombamento do prédio.

No entanto, os alunos, funcionários e diretores trataram de readequá-la aos novos tempos: a sujeira entendida como ruído sendo algo desejável, a liberdade absoluta característica do modelo pós-moderno de vida de poder colar e rabiscar o quanto quiser seu interior, como um projeto de design de interiores feito a milhares de mãos extremamente habilidosas (lembrar do desenho no banheiro masculino onde há a representação do cartaz da primeira "FAU MOSTRA DESIGN", mas com a excelente e muito boa adaptação para "FAU BOSTA DESIGN". Conheço o autor, mas vou privá-lo da fama). Junto a essa ação dos alunos, nossos diretores e funcionários nos colocam agora a cereja do bolo: a bosta. A merda. O excremento. As fezes. A titica. Os dejetos. O pior-do-homem. O cocô. Enfim, o produto de coloração amarronzada proveniente de organismos pluricelulares, normalmente vertebrados, e mais evoluído nos mamíferos. E se pensarmos o cheiro como partículas em suspensão do objeto de origem, podemos assumir que estamos nadando na merda, respirando a bosta, interiorizando, por fim, esse ambiente pós-moderno.

Sem querer parecer presunçoso, mas minha pessoa já havia profetizado esse momento 2 anos antes, em trabalho realizado para a disciplina de Projeto Visual 4, ministrada pelos professores Marcelo Bicudo e Takashi Fukushima, onde lancei mão da fonte eletrônica Platelet para criar o trabalho chamado por mim de "BOSTA PÓS-MODERNA", naquele momento rechaçado por ambos os professores. Hoje, eles respiram essa mesma Bosta pós-moderna que nós.

Concluindo, o presente ensaio expôs alguns pontos históricos e sociológicos, e o porquê desse horrível fedor que invade e infecta nossos pulmões, de modo a que paremos de culpar nossos administradores, e passemos sim a assumir nossa parcela de culpa pelo ocorrido, já que fazemos parte da humanidade, e é dela que veio a bosta pós-moderna.

Eduardo Camillo K. Ferreira

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