terça-feira, 6 de janeiro de 2009

...universos temporais...

Fazia tempo que não postava duas vezes no mesmo dia, mas como encontrei certo tempo tanto para perscrutar na internet por novidades (ao menos para mim) quanto para escrever, colocarei um dos meu achados aqui.

A artista se chama Jeanete Musatti, e a bela obra, "Tartaruga" (2005). Para mais sobre a artista em si, o texto de Ricardo Rezende é bastante bom. Aqui, escreverei apenas sobre a obra, que se mostrou bastante interessante, em especial em dois pontos: o uso dos materiais, e a semântica desses.

Quanto ao uso, é bastante bonita a interação entre a rugosudade visual do casco da tartaruga e a rugosidade tátil das pedras, a tal ponto de criar uma relação com a realidade (o animal em si) bastante interessante, já que essa rugosidade tátil também se encontra presente nas escamas de uma tartaruga de verdade. As formas das pedras, inclusive, poderiam ser originais, sem necessariamente terem sido trabalhadas pela artista, mas se sim se não, não importa.

Em relação à semântica dos materiais, o vínculo conceitual destes com o modo de trabalho da artista é bem forte. Aqui, um trecho do texto do Ricardo Rezende:

"O procedimento de constituição de arquivos, atualmente em voga na arte copntemporânea, esteve presente na obra de Jeanete Musatti desde o início de sua carreira: a arte transformada em algo como um arquivo, um pequeno museu de curiosidades, um guardado da memória e das experiências vividas plásticas, estéticas ou sensoriais"

Esse ato de arquivar, de guardar, está diretamente relacionado com a temporalidade das coisas. O tempo enquanto ator central num palco onde todos os personagens são afetados por ele, desde sua gênese à sua extinção. E os materiais escolhidos pela artista acabam por relacionar-se diretamente com esse material, o tempo. A tartaruga é conhecida por sua longa vida, longas viagens, com certo caráter de passividade, de observação, pelo seu andar lento e paciente. Um casco sozinho, sem o conteúdo vivo, realça essa idéia, pois remete-se ainda mais ao passado (e quem sabe o quanto esse "passado" pode ser?). Junto ao casco, estão os cristais de rocha, que levam anos e anos para se formarem, e trazem no seu íntimo partículas e moléculas e átomos que podem ter pertencido a qualquer coisa: outras pedras, mágma, dinossauros, um rei, uma árvore, um pássaro, ou quem sabe até mesmo uma tartaruga? Enfim, a união de ambos objetos faz crescer esse sentido de temporalidade, de sobrevivência da matéria ao tempo, fornecendo insumo para o pensar.

Para mais obras e textos sobre a artista, o site da Galeria Nara Roelser.

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