segunda-feira, 13 de julho de 2009

...o fim da vida...


O post sobre a Bienal de Veneza será o próximo. Gostaria de colocar aqui brevemente algumas considerações sobre o estupendo conto de Leon Tolstói "A morte de Ivan Ilitch". Considerada por alguns como uma de suas melhores obras, mesmo contendo singelas 85 páginas quando comparada com as magistrais mais de 1200 páginas de "Guerra e Paz", nessa pequena história, Tolstói conseguiu o máximo da consisão e expressão da vida de um homem de seu período, até seu agoniante fim, que invariavelmente toca e marca profundamente o leitor. Não colocarei aqui um resumo da história, mas irei diretamente à análise.

Ivan Ilitch é um burguês comum, e claramente pode ser tido como um homem comum, como cada um de nós, e isso pelos seus problemas, e o modo como os trata: em geral, a fuga.

Quando começa a ter problemas com sua esposa, procura sua fuga no trabalho; quando está de férias e entediado, procura uma fuga na busca por novo emprego; quando doente e com dores, procura a fuga na crítica aos demais. Sua mulher não faz diferente: desde o início, foge da realidade, e "atua" diante da morte de seu marido, quando já não mais se importava realmente com isso; quando o marido doente não melhora, da mesma maneira foge da responsabilidade de esposa, jogando a culpa nele por "não tomar os medicamentos nos horários certos". Os doutores fogem da verdade atrás de termos médicos e suposições que sabiam errôneas. E todos fogem da realidade de serem homens, escondendo-se atrás da máscara do dinheiro e da ostentação.

No final do texto, essas máscaras irritam Ivan, ele não mais suporta as "mentiras". No entanto, é evidente o motivo por não as aturar: defronte com sua morte, enxerga nessas fugas a sua vida inteira. Vê em sua mulher o que fez a vida toda. Fugir da realidade. Fugir dos outros, se esconder da verdade.

É bastante comovente, no entanto, como retorna a ela: conversa com sua consciência, tenta enganá-la dizendo de sua boa vida, mas acaba sucumbindo à verdade; enxerga no mujique Guerássin um homem bom e verdadeiro; vê em seu filho à beira da sua cama, chorando, o verdadeiro amor familiar, coisa que não vira até o momento, nem em seu (conveniente) casamento. Enfim, vê a verdade.

Solzhenitsyn, em seu também estupendo romance "Pavilhão de Cancerosos" percebe isso em Tolstói, quando do diálogo de dois de seus personagens, Rusanov e Efrem, a respeito de um dos livros de Toltói:

-¡Esas son pavadas! -dijo Rusanov, haciendo silbar la "s" de indignación-. ¿No podría cambiar el disco? Se huele a un kilómetro que ésa no es la moral nuestra. Y por lo demás, en su libraco ¿qué es lo que hace vivir a la gente, pues?


Efrem había parado de narrar y había vuelto sus ojos hinchados hacia su interlocutor calvo. Se sentía despechado de que el calvo hubiese asestado un golpe tan certero En el libro estaba escito que lo que hace vivir a los hombres no es el egoísmo, sino el amor al prójimo. El viejo quisquilloso había dicho: "El hombre vive de causas comunes". Era aproximadamente lo mismo.


-¿Lo que lo hace vivir?... Ni siquiera se atrevía Efrem a pronunciar la palabra en voz alta. Era casi inconveniente-. Pues bien, el amor, como dice él. ..


A verdade e o amor são inseparáveis, pois não há nada mais sublime na existência do homem que a caridade, nada que o faça mais grandioso diante de si do que amar aos demais. Da mesma maneira, não há nada que satisfaça mais ao homem que a verdade. Dois pontos fundamentais à felicidade, e é isso que Ivan Ilitch encontra ao final de sua vida: amor, verdade e felicidade.

Aqui, um link para outro comentário sobre o texto: link.

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