segunda-feira, 13 de outubro de 2008

...respiração mais...

A abrangência dessa mostra do Sesc é muito boa. Estão na mostra instalações, peças, músicas, concertos, intervenções, etc., e, a que comentarei agora, performances.

Performances são como que atos artísticos, numa mistura entre teatro e arte conceitual, o artista executa uma série de ações com o intuito de transmitir certa idéia, ou falar de determinado assunto. Na história da arte, temos muitos artistas performáticos famosos, como Marina Abramovic, ou Joseph Beuys, entre outros. No Brasil, encontramos os Irmãos Guimarães, que participaram dessa mostra sesc de 2008. Já participaram da Bienal de São Paulo com uma instalação, e em exposições internacionais. Na mostra, apresentaram a performance Respiração +.
A obra que apresentaram na mostra é constituida de dois aquários, um ao lado do outro, cheios de água, numa altura de 1,50 do chão. No momento em que inicia a performance, dois artistas vestidos de terno e gravata entram nos dois aquários e ao sinal de uma campainha acionada por um terceiro artista, ambos submergem. Novamente o sinal é acionado, e um deles se ergue e começa a declamar um longo texto a respeito da respiração, como no trecho a seguir:

"A respiração é um ato obrigatório mas involuntário e inconsciente, e não se toma conhecimento. A respiração tem como função: uma, levar oxigênio ao sangue a fim de alimentar todas as células do organismo. A segunda é expelir o gás carbônico. O gás carbônico não pode permanecer no organismo. Caso isso aconteça, haverá intoxicação (...)".

No entanto, o texto não é recitado inteiro, pois cada vez que o terceiro artista toca a campainha, o ator que está falando submerge, e o que estava na água emerge para falar seu texto. O primeiro intervalo entre as campainhas é de 5 segundos. O segundo é de 7 segundos. O terceiro de 10 segundos, e assim por diante. A velocidade com que falam não permite que respirem profundamente, nem mesmo o tempo que têm para tomar fôlego antes de novamente submergir, o que torna assistir a essa performance algo bastante agoniante. Esse ritual dura aproximadamente 20 minutos, o que torna os intervalos finais extremamente longos, a ponto de os artistas não resistirem e terem que subir para respirar antes do toque do sinal. Mas ainda assim, eles sobem e declamam seu texto, retornando à água assim que o sinal volta a tocar.

Impressiona bastante a performance no seu todo, pois ao final é possível observar a exaustão dos dois artistas. No entanto, o modo como os Irmãos Guimarães trabalham é de forma bastante teatral, não sendo possível saber se esse cansaço faz parte ou não do atuar.

É interessante as diversas interpretações que se podem ter dessa obra. Uma delas leva em conta a disposição do cenário. Os aquários, um ao lado do outro, são como que os pulmões, e ao centro, onde fica o artista com a campainha, o cérebro ou sistema nervoso central, controlador do corpo, tanto dos movimentos voluntários quanto involuntários. No princípio, tudo é controlável, tudo obedece, mas quando se caminha para situações extremas, se perde o controle, não se resiste até o fim da campainha, não importanto o quanto que a mente mande, o organismo acaba mais forte. Haverá quem diga que isso é para os fracos, e que nas artes orientais há um autocontrole em que o desejo da mente supera todo o corpo. A isso aponto então as roupas que os artistas usavam: terno e gravata, vestimenta característica do povo ocidental, onde esse auto-domínio não impera, ou pelo menos não é tão forte.

E esse texto evocado pelos artistas também remetem a esse universo ocidental, onde o conhecimento científico permeia as ações do homem desde o renascimento, onde começou a ser mais fortemente desenvolvido o método científico. É no entanto de se questionar a importância desse tipo de saber num momento desesperador como esse: que importa as características do processo respiratório num momento em que me afogo? Que ajuda me dá conhecer isso se o que eo preciso é respirar? Chega mesmo a atrapalhar, pois falar impede uma profunda tomada de fôlego, coisa que o instinto cuidaria com muita propriedade por si só.

Aqui, link para o página da mostra sobre os artistas. As fotos desse post são do Pedro Conti.

Um comentário:

Pedro Conti disse...

Muito bacana mesmo edu!
Valeu por ter colocado as fotos. abrcao