quinta-feira, 14 de agosto de 2008

...formas mínimas...

Voltando à arte contemporânea, em especial ao minimalismo, mais especificamente no Brasil, tratemos do famoso Iran do Espírito Santo. O artista representou nosso país ano passado na Bienal de Veneza, e continua expondo mundo afora. Seu trabalho se calca bastante na percepção dos espaços, mais especificamente, em objetos e situações ordinárias, mas muitas vezes com metáforas bastante sutis e bem pensadas.

Copo d'Agua, 2006, é uma de suas obras mais famosas. O que se observa é a distorção visual que um objeto simples causa, um objeto cotidiano, ordinário, imperceptível senão num contexto como de uma exposição. E justamente é esse contexto que nos permite perceber sua beleza. A transparência imaculada, a simetria absoluta, a ausência de qualquer ruído visual, a sombra projetada com um foco brilhante próximo à base, o molde da realidade de acordo com suas
próprias regras, a limpeza de forma, a serenidade da inexistência de movimento, e finalmente a simplicidade absoluta contida nele são alguns dos elementos visuais aos quais estamos expostos diariamente, e nem percebemos. Não há como passar desapercebido de obra tão paradoxalmente grande.
Lembra até mesmo o famoso trecho da música do Gilberto Gil, cantada por Chico Buarque, Copo Vazio, que diz:
"É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar."
Tudo é ocupado por algo, preenchido, seja por matéria, seja por sentidos, significados, relações, ambos os casos modificando o atuar do homem no mundo. Uma forte ideologia trabalha sobre o homem tanto quanto uma pancada num galho de árvore. O mundo físico e o mundo subjetivo são faces de uma mesma moeda, sempre juntos, funcionando ao "acaso", influenciando-se mutuamente e propondo infinitas possibilidades de ação, ou ausência de.

Outro belíssimo trabalho do artista é Sem Título, de 2004. Uma "rodela" de uma parede, um deslocamento material de uma situação tão sólida quanto uma casa, que ao mesmo tempo mostra-se frágil na forma de círculo, impondo certa tensão estática, já que qualquer mínimo toque o faria movimentar-se impreterivelmente. Expõe a estrutura básica construtiva do meio (o tijolo), e contrapões sua forma paralelepípeda ao recorde cilíndrico onde se encontra. Se fica a imaginar o local de onde foi tirado, o espaço aberto criado, e o modo como se o fez. Novamente o objeto é cotidiano, presente na vida de absolutamente todos, delocado de seu meio natural para que se ganhe vida por si só, por suas características visuais e compositivas. Mesmo o aspecto rude do tijolo consegue contrastar com a elementariedade de sua estrutura primária, bem como com a perfeição do recorte limiar do círculo, e de seu entorno imaculado, a sala da galeria.

Coloco aqui três links: um para seu espaço no site da Galeria Fortes Vilaça, outro para um texto em inglês sobre o artista, e um último para mais fotos de outra exposição do artista.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ola Eduardo. Gostaria de citar seu texto num artigo academico. Voce tem lattes? Obrigada!